Hoje, 29 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Dança, uma data estabelecida pelo Comité Internacional da Dança da UNESCO em 1982 para promover e valorizar esta arte na sua diversidade cultural. Em Portugal, esta ocasião é marcada por uma variedade de eventos e iniciativas que destacam a riqueza e a variedade da dança, desde apresentações de dança até aulas abertas em espaços públicos.
No Dia Mundial da Dança, celebramos a arte que transcende fronteiras, idiomas e culturas. Este é um momento para refletir sobre a importância da dança nas nossas vidas, a sua influência na expressão artística e emocional, e o seu papel na promoção da inclusão e diversidade.
Neste dia, o Notícias em Direto dedicou-se a explorar o universo da dança, ao investigar as suas origens culturais, os benefícios pessoais que proporciona e a sua evolução constante, através de uma imersão em duas escolas de renome em Leiria, a Academia de Ballet e Dança Annarella e a Escola de Dança Diogo de Carvalho.
Com 17 anos de história, a Escola de Dança Diogo de Carvalho tem sido um refúgio para os amantes de dança, ao oferecer não apenas treino técnico, mas também um espaço para a expressão criativa e o crescimento pessoal.
Laura Matos Viola, uma bailarina graduada do conservatório e professora da Academia Annarella fala-nos sobre a posição da dança na sociedade portuguesa. A recente professora destaca a importância cultural e histórica da dança em Portugal, especialmente o ballet clássico, embora ainda seja percebido mais como um passatempo do que uma carreira valorizada. Laura ressalta a necessidade urgente de valorizar a dança em Portugal para reter talentos locais e proporcionar oportunidades para os bailarinos pois lamenta que muitos bailarinos talentosos tenham de deixar o país em procura de melhores oportunidades.
“… em Portugal é uma arte que geralmente é muito associada a um hobby, a algo que as crianças fazem para melhorarem a postura ou para terem alguma atividade depois da escola. E, no entanto, fora de Portugal há um grande valor que se dá a esta arte…”, compara Laura Viola.
“…para ter uma carreira de bailarinos profissionais, têm de sair do país porque infelizmente um bailarino em Portugal não é muito valorizado e se quer viver bem como em outras carreiras é possível, em Portugal como não é valorizado e não se dá tanta importância como se devia dar como em outros países mais avançados nesse aspecto, os portugueses e mesmo outros bailarinos que frequentam o nosso conservatório veem-se quase obrigados a sair do país para ter um trabalho muito mais favorável”, continua Laura.
Desde os passos delicados do ballet clássico até aos ritmos energéticos do hip-hop, a dança transcende fronteiras geográficas e culturais, une pessoas de todas as idades, géneros e origens. É uma linguagem que fala ao coração, comunica emoções, histórias e tradições de maneira única e poderosa. E é disso que nos fala Diogo Carvalho:
“… a dança contemporânea, cada vez mais, tenta integrar outras culturas, outros modos de pensamento. E acho que tal e qual, como na sociedade em geral, tem estado a evoluir, temos cada vez mais trabalhos diversos em espetáculos em que se mistura, por exemplo, danças africanas e danças tradicionais de outros países que não têm expressão nas danças tradicionais de ballet clássico. Hoje em dia nós podemos pegar no rancho, transformá-lo e trazê-lo para uma coreografia.”, explica-nos o diretor da escola de dança.
Tanto Laura quanto Diogo destacam como é que a dança contemporânea tem evoluído para integrar uma variedade de estilos e influências culturais, refletindo a diversidade da sociedade em que vivemos. Ambos enfatizam a importância de proporcionar um espaço seguro e acolhedor onde todos os alunos possam se expressar livremente e celebrar as suas identidades únicas.
Laura acredita firmemente na importância da inclusão na dança, destacando como a diversidade enriquece a arte e fortalece a comunidade:
“Eu acho que a dança, como na nossa sociedade hoje em dia, já devemos incluir isso em tudo o que fazemos, ser inclusivos, ou seja acaba por ser uma reflexão da sociedade onde vivemos. A dança é uma das artes onde podemos demonstrar essa diversidade, dependendo das alturas e das nossas diferenças, podemos sempre encontrar o que cada um tem de melhor e obviamente melhorar aquilo que necessitamos para ser bons bailarinos…”.
Além disso, Laura destaca também os benefícios físicos, mentais e emocionais de praticar dança regularmente, descrevendo-a como uma forma de terapia que nutre paixão e autoaperfeiçoamento.
“…eu acho que qualquer pessoa que se apaixona por este tipo de exercício, que também é uma arte, acaba também por funcionar como uma terapia porque quando nós fazemos algo que nos enche a cabeça e que nos apaixona, acabamos sempre por refugiar-nos nessa sensação…”, explica Laura.
Diogo Carvalho, vai ao encontro do que foi dito e destaca como é que a prática regular da dança pode ser terapêutica e libertadora, permitindo que os alunos expressem as suas emoções e desenvolvam habilidades de autoconfiança e resiliência.
“Para quem leva uma questão lúdica e não quer seguir dança como profissão, em questões mentais é mais libertador, porque acaba por chegar aqui e tirar um bocadinho para se distrair e tirar os problemas que temos lá fora, portanto, eu acho que é a partir daí que é libertador para a mente e para o físico. Quando queremos levar isto a sério e a dança quer ser um percurso, às vezes não é tão libertador assim, porque temos de estar mesmo muito focados.”, confirma Diogo.
O diretor de 37 anos realça ainda que a dança desempenha um papel crucial na sociedade, não apenas como uma forma de entretenimento, mas também como uma ferramenta para o desenvolvimento físico e mental especialmente desde a infância. Afirma que a prática desta arte pode contribuir para a coordenação, lateralidade e musicalidade, impactando positivamente até mesmo no desempenho escolar. E a dança também desempenha um papel terapêutico, ajudando os alunos a lidar com o stress e a ansiedade, além de desenvolver habilidades de apresentação e confiança em palco.
“… uma pessoa que tenha dificuldades em estar perante uma plateia, fazer uma apresentação dum trabalho… uma das coisas que eu vejo aqui nas minhas alunas é que isso deixa de ser um problema, porque quando são pequeninas, claro que vão tendo a vergonha de estar em palco, mas isso rapidamente, com o hábito e com a repetição vai passando e, portanto, quando têm situações destas, de estar a apresentar ou ter na vida alguma coisa que tenham, acabam por ser mais soltas e conseguem ter mais raciocínio, mais desenrascadas, porque tem muito esta prática dos espetáculos e, portanto, acabam por ter aquela coisa de estar em frente a um público, não é um problema.”, considera Diogo.
No entanto, para aqueles que desejam seguir uma carreira na dança, Diogo destaca que a jornada é rigorosa e exigente, exigindo compromisso, dedicação e muitas horas de prática.
… tem de se ter muito empenho, tem de se ter muita dedicação e muito trabalho e muitas horas… as pessoas não têm bem noção das horas que o aluno dança por semana. Porque trata-se de repetição e repetição, e só se chega lá a tal perfeição que nunca existe. Só chega a essa perfeição com muito trabalho, mas não existe porque quando eu sou perfeito, vou querendo ser mais perfeito.”, sublinha Diogo
Ambos os entrevistados concordam que as escolas de dança desempenham um papel crucial na promoção da arte e da cultura. Laura e Diogo enfatizam a importância de proporcionar um ambiente acolhedor e inclusivo onde todos os alunos se sintam valorizados e representados. Também destacam a necessidade de colaboração e apoio mútuo entre as instituições de dança para fortalecer a comunidade artística e oferecer oportunidades de crescimento e desenvolvimento para os bailarinos.
No entanto, apesar do grande número de escolas de dança em Leiria, Diogo lamenta a falta de apoio e cooperação entre elas.
“Estamos aqui em Leiria, e eu costumo dizer que qualquer dia devíamos ser chamados a Capital da Dança, porque escolas de dança é quase uma em cada esquina. Mas eu tenho pena de que todas essas escolas vivam no seu centro, focadas para si próprias e isso também vem um bocadinho da questão de não sermos financiados por coisa nenhuma e são os pais que acabam por sustentar as escolas e, portanto, isto vai sempre criando rivalidades, vai criando cada vez mais uma rutura e não uma união entre as escolas.”, refere Diogo.
Apesar dos desafios enfrentados pela comunidade da dança em Portugal, tanto Diogo quanto Laura mantêm uma visão otimista para o futuro da arte no país. Ambos acreditam firmemente que, com o tempo, haverá um maior reconhecimento e apoio para os artistas, permitindo que a dança floresça e enriqueça as vidas daqueles que se dedicam a ela. Sonham com uma valorização crescente da dança e uma conscientização ampliada sobre seu impacto positivo na sociedade. Juntos, esperam que Portugal se torne um centro vibrante de dança, onde o talento local é nutrido e celebrado, e destacam a importância contínua de cultivar o amor pela dança, independentemente das circunstâncias.