O cardeal José Tolentino de Mendonça falou hoje na existência de uma “sociedade de surdos”, numa “cultura muito polarizada” e defendeu a necessidade de se cuidar uns dos outros, na homilia da missa de Natal da Sé do Funchal.
“Hoje vivemos também numa cultura muito polarizada, às vezes até ao exagero. Cada um tem a sua opinião e ninguém se quer ouvir. Tornamo-nos uma sociedade de surdos, em que as diferenças parecem que são impedimentos, obstáculos, em vez de serem lugares de complementaridade, de crescimento e de encontro”, declarou Tolentino de Mendonça na homilia.
O cardeal madeirense defendeu que são precisas sociedades compostas por cidadãos que tenham “curiosidade pelos outros, uma sã abertura uns aos outros, mesmo pensando coisas muito diferentes”.
Tolentino de Mendonça, nomeado este ano pelo Papa Francisco prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, referiu também as estatísticas dos suicídios em Portugal, considerando que “é um sinal” que não pode ser ignorado.
“É um grito. Há irmãs e irmãos nossos a viver sofrimentos, a achar que já não são capazes de ‘dar a volta’, de ter uma segunda oportunidade na vida e têm a tentação de pôr fim à sua história. Queridos irmãos, isto não pode acontecer”, sublinhou.
“Eu penso que nós precisamos todos […] de dar a mão uns aos outros, de nos agarrarmos, porque todos precisamos. O Menino é frágil para nos lembrar que todos somos frágeis, todos somos vulneráveis”, acrescentou o cardeal.
Tolentino de Mendonça vincou também a importância da união e da coesão: “Maria, José e o Menino não tinham as condições, não tinham o necessário, mas estavam juntos”.
“E o estar juntos é uma força muito grande. Por isso, o presépio de Jesus desafia-nos como sociedade a vivermos com maior coesão”, apontou.
Antes da missa, em declarações aos jornalistas, Tolentino de Mendonça quis deixar uma mensagem de esperança, numa altura de “tantos desafios”, muitos deles provocados pela guerra na Ucrânia.
“O nascimento de Jesus é para nós um investimento de confiança na construção de um mundo mais justo, mais humano, onde a pessoa humana possa estar colocada de facto no centro, ajudando-nos todos com uma cultura de cuidado, uma cultura de relação, não deixando ninguém para trás”, afirmou.