A Assembleia da República aprovou hoje por unanimidade um voto de pesar pela morte do divulgador de música e radialista António Cartaxo, aos 88 anos, lembrando uma “figura incontornável da rádio e da divulgação musical”.
O texto do voto recorda António Cartaxo como uma “figura incontornável da Rádio e da divulgação musical”.
“Tendo ingressado na BBC, na fase em que a rádio pública britânica retoma as emissões para Portugal, [António Cartaxo] mostra especial gosto em passar notícias sobre a situação que se vivia em Portugal com a ditadura”, lê-se.
O parlamento refere que Cartaxo foi “afastado” da BBC, “juntamente com Jorge Peixoto, já depois do 25 de abril de 1974, acusados de apresentarem uma visão de esquerda”.
“No regresso a Portugal, António Cartaxo ingressa na rádio pública portuguesa onde trabalhou 40 anos e onde ficou conhecido pelo trabalho relevante desenvolvido na defesa e promoção da ‘grande música’, como gostava de caracterizar a música erudita.”, lembra o parlamento.
O voto salienta que António Cartaxo foi um “homem de cultura, com uma atividade multifacetada, foi professor universitário, autor de obras importantes e musicólogo”.
“Foi como apresentador e realizador radiofónico que se tornou conhecido dos portugueses, através de programas da sua autoria, como: ‘História da Música, ou ‘Grandes Músicas’, entre outros”, lê-se no texto.
O parlamento refere ainda que Cartaxo fez parte da “fundação da rádio local Telefonia de Lisboa, um projeto de comunicação social progressista do final da década de 1980, dirigido por Ruben de Carvalho”.
Segundo o voto de pesar, nessa rádio local, o radialista produziu, a partir de final de 1986, “um programa inovador sobre música sinfónica que, de uma forma didática, inteligente e divertida, explicava a movimentos sociais e políticos a relação das lutas populares e revolucionárias com várias composições musicais, a influência da música tradicional e popular na chamada música clássica e a interação das biografias pessoas dos compositores com os protagonistas do poder económico e político das suas épocas”.
O parlamento recorda também que, apesar da qualidade e do reconhecimento da obra desenvolvida ao longo da sua vida de trabalho”, António Cartaxo “era um homem que se caracterizou pela humildade com que falava de si e da sua obra”.
“A Assembleia da República expressa o seu profundo pesar pelo falecimento de António Cartaxo e manifesta aos seus familiares e amigos as suas sentidas condolências”, conclui no texto.
O divulgador e radialista português António Cartaxo, que trabalhou para a BBC e na rádio pública portuguesa, morreu em 05 de janeiro aos 88 anos em Lisboa, disse à agência Lusa o jornalista Antonio Borga.
António Cartaxo, que nasceu na Amadora em 1934, dedicou grande parte da vida profissional a divulgar música clássica, sobretudo através da rádio e em diferentes géneros.
“A rádio para mim foi sempre um meio apaixonante. […] Há outro tipo de rádio que não diz absolutamente nada. Eu gosto da forma como faço os meus programas, contando as minhas histórias de música e procurando tirar o máximo partido do som que a rádio possibilita”, recordava António Cartaxo em entrevista à agência Lusa em 2010, quando publicou o livro “Quase verdade como são memórias”.