O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, considerou que a Assembleia Continental Europeia do Sínodo 2021-2024, cuja primeira parte terminou hoje em Praga, foi uma “oportunidade extraordinária” para “escutar a Igreja da Europa”.
No final dos trabalhos deste encontro, subordinado ao tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, José Ornelas sublinhou que “uma das palavras que mais se ouviu (..) foi ‘unidade na diversidade’, a convergência na diversidade (…), não querendo ser uniformes, mas ser verdadeiramente irmãos e irmãs na mesma Igreja”.
Esta foi, segundo o também bispo de Leiria-Fátima, uma “oportunidade extraordinária” para “escutar a Igreja da Europa nas suas dificuldades, nas tensões que existem, mas na vontade de ultrapassá-las e de viver em comum o ser Igreja”, segundo um comunicado divulgado pela CEP.
O prelado realçou que os trabalhos foram de uma “discussão muito clara e transparente” e aludiu à importância de a Igreja refletir sobre “as dificuldades da guerra, das desigualdades, das migrações, da integração e de compreensão dentro da Igreja”.
“Este não é o fim do processo sinodal na Europa. Na transparência das nossas discussões, da nossa capacidade de escutarmos e de falarmos, estamos a caminho de um Sínodo da Igreja toda e queremos, como Europa, dar o sentido daquilo que somos, nas dificuldades mas na esperança do caminho que percorremos juntos”, acrescentou.
Nesta Assembleia Continental Europeia do Sínodo, a delegação portuguesa, liderada por José Ornelas, apresentou a síntese da equipa sinodal da CEP, a qual reconhece a dificuldade da Igreja em acolher e “aceitar a diversidade”, como casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais.
A síntese da equipa sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), apresentada na manhã de terça-feira, sublinha que, “diante de modelos de pastoral gastos e distantes de um novo impulso evangelizador, o clericalismo obstaculiza a mudança, o legalismo arbitrário afasta os fiéis e o rosto burocrático de muitas comunidades são geradores de tensão e muitas vezes de abandono”.
“Há alguma dificuldade em acolher todos de igual forma e em aceitar a diversidade no seio da Igreja (casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais) em valorizar a fragilidade, nomeadamente das pessoas com deficiência, e em compreender o que se entende por ‘acolhimento’”, adianta o documento apresentado.
Segundo as conclusões plasmadas na síntese, “há, ainda, tensões diversas em temas ditos fraturantes, tais como: o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres”.
“Devem ser consideradas, igualmente, outras questões: a forma como são geridas as situações de abusos sexuais; a comunicação hermética que dificulta, não só o diálogo interno, mas o diálogo com a sociedade em geral e, especialmente, com outras confissões cristãs e religiosas”, aponta a síntese da equipa sinodal portuguesa.
Nesta segunda fase do processo sinodal, que se prolonga até ao outono do próximo ano, subordinado ao tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, a Igreja portuguesa entende, a partir da imagem bíblica apresentada no Documento da Etapa Continental apresentado pelo Vaticano – “alargar o espaço da tenda” -, que este “é sinal de esperança que revela a importância de a Igreja dar voz e vez a todos, indo às periferias, manifestando a necessidade de acolher a todos independentemente das suas circunstâncias, incluindo os que moral e canonicamente possam estar numa situação irregular”.
“A Igreja que se intui é aquela que está em saída porque se assume plenamente missionária e capaz de oferecer à Humanidade luzes de esperança”, sublinha o documento que foi apresentado por Carmo Rodeia e Anabela Sousa, da equipa sinodal da CEP.
Entretanto, segundo o comunicado hoje divulgado pela CEP, na quarta-feira, Carmo Rodeia alertou para a ausência dos jovens no processo sinodal em curso, apontando a realização da Jornada Mundial da Juventude em Portugal, em agosto deste ano, como oportunidade para a sua integração
“Partilho convosco a experiência sinodal que estamos a ter em Lisboa, com a preparação para a Jornada Mundial da Juventude, de 01 a 06 de agosto, para a qual convidamos todos os jovens, especialmente os europeus. É muito mais do que um evento; é também uma oportunidade para os jovens partilharem com outros jovens o seu entusiasmo em conhecer Jesus”, disse a também diretora do departamento de comunicação do Santuário de Fátima, acrescentando: “Se queremos jovens comprometidos, temos de os conduzir ao compromisso, ouvi-los, dar-lhes voz, aproximarmo-nos deles, dos seus problemas e das suas preocupações”.
A Assembleia Continental prossegue, entre sexta-feira e domingo, apenas com a presença dos Bispos que presidem às 39 Conferências Episcopais da Europa.
O Sínodo sobre a Sinodalidade, que culminará no Vaticano em outubro de 2024, quer saber como é que a Igreja está a fazer o “caminho em conjunto” no anúncio do Evangelho e chamou, numa primeira fase, “todos os batizados” a darem opinião.
“Uma Igreja sinodal, ao anunciar o Evangelho, ‘caminha em conjunto’. Como é que este ‘caminho em conjunto’ está a acontecer hoje” na Igrejas locais? foi uma das principais perguntas colocadas aos cristãos.